segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Área de cultivo de arroz reduz 50%

Neste ano, o início tardio do plantio e preço baixo do produto provocaram queda na produção no Centro-Sul
Icó. Depois da Bacia do Açude Orós, as várzeas do Açude Lima Campos, que banham terras dos Municípios de Icó e Orós, formam o segundo maior centro de produção de arroz irrigado da região Centro-Sul. São cerca de mil pequenos produtores que vivem da agricultura e pecuária de base familiar. Neste ano, o início tardio do plantio e o preço baixo do produto provocaram uma redução de 50% da área de cultivo em relação a 2010. A queda traz um quadro de preocupação para os agricultores. O coordenador regional da Ematerce, Joaquim Virgulino de Oliveira, estima numa redução ainda maior em comparação com o verão de 2010. "É bem mais do que a metade e, talvez, chegue a 60%", observou. "Se o açude estivesse seco seria ainda maior". Em comparação com o período auge da produção na década de 1990, Virgulino de Oliveira mostra que a diminuição do cultivo de arroz em irrigado é bem significativa. "Caiu de seis mil hectares para dois mil, incluindo os municípios de Iguatu e Quixelô", afirmou.

De acordo com estimativas da Secretaria de Agricultura do Município de Orós, a área de cultivo irrigado no período de verão (segundo semestre) no entorno do Açude Lima Campos é de 300 hectares. A produtividade média é de cinco mil quilos por hectare. Um índice baixo em relação a outros centros produtores. "É uma atividade importante porque gera emprego, mantém as famílias no campo e asseguram a própria produção de grãos para consumo próprio e comercialização do excedente", observa o secretário de Agricultura da cidade de Orós, Aurelino Barbosa.

Custos da produção

Os pequenos produtores de arroz irrigado no entorno do Açude Lima Campos reclamam contra o preço do produto que não cobre os custos de produção. "É desestimulante e a cada ano, diminui a área de cultivo", disse o agricultor, Bonfim dos Santos, da localidade de Pedregulho. "Se a situação não mudar, no próximo ano o plantio será menor ainda, pois todos estão queixosos". Bonfim dos Santos plantou dois hectares, a metade do ano passado.

O agricultor Ednardo da Costa acompanhou o preparo de terra feito por um trator alugado ao custo de R$ 80,00, o hectare. Além do preço reduzido de comercialização do produto, está preocupado com o tempo. O plantio será feito esta semana e a colheita prevista para janeiro. "Neste ano, o plantio atrasou porque o nível do Açude Lima Campos estava elevado e as terras ficaram encobertas", explicou. "Tivemos que esperar e o jeito é arriscar, fazendo um cultivo fora de época".

Regularmente, o plantio de arroz irrigado no verão é feito a partir de julho ou no mais tardar em agosto. A colheita dos grãos ocorre quatro meses depois e em janeiro há risco de chuvas, prejudicando a lavoura. "É um perigo porque poderemos ter prejuízo ainda maior", disse Costa. "A gente planta porque é o jeito, não temos outro meio de sobrevivência". Quem trabalha no sistema de arrendamento, paga ao dono da terra, uma saca de arroz, para cada sete que são colhidas, além do custo com agrotóxico, adubo químico e energia elétrica para o sistema de irrigação.

O tratorista José Hélio da Silva ganha a vida preparando terras para os pequenos agricultores do entorno do Açude Lima Campos. Neste ano, já preparou cerca de 100 hectares. "O serviço vai cair pela metade porque uns desistiram de plantar e outros diminuíram as áreas de cultivo", contou. "No preço que está não compensa mais plantar arroz, a não ser para o consumo próprio".

Importância

O secretário de Agricultura de Orós, Aurelino Barbosa, mostrou a importância do cultivo de arroz irrigado para a renda da agricultura familiar e a geração de emprego no campo. "É uma atividade artesanal, feita por pequenos produtores que plantam em áreas reduzidas e que enfrentam baixa produtividade e elevado custo de produção", observou. "No valor atual, o preço é desestimulante".

Barbosa chama a atenção para a importância do cultivo de arroz para a renda de cerca de mil produtores nas localidades de Pedregulho, Guassussê, Lagoa Funda, Tabuleiro, Mulungu, Cascudo, Poço da Pedra e Olho d´Água, nos Municípios de Orós e Icó. "Há outro fator que contribui para a queda de preço no mercado regional, como a vinda de arroz importado", destacou.

O secretário de Agricultura de Icó, Mailton Bezerra, observa que a crise do arroz é nacional. "A importação do produto provocou uma queda de preço do produto e isso refletiu aqui, no mercado globalizado", explicou. "Os produtores locais estão prejudicados". Bezerra lembrou que o Município firmou parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para ampliar a aquisição de arroz dos pequenos produtores por meio de programas de compra antecipada, para a merenda escolar e para a formação de estoque. "São ações que beneficiam os agricultores, reduzindo o impacto da crise".

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Natália Feitosa, mostra-se preocupada com a situação. "Era uma atividade que dava bons lucros, gerava emprego no campo até a década passada e estava em ascensão", frisou. "Agora está em decadência e isso lembra o que aconteceu com o algodão que praticamente desapareceu na década de 1980".

DESESTÍMULO

Produtores lamentam queda

O preço da saca de 60kg do arroz em casca, novo, é comercializado por R$ 30,00. Em 2008, custava R$ 40,00

Iguatu Nas várzeas do Açude Orós que se estendem pelos Municípios de Iguatu e de Quixelô, uma das maiores áreas de produção de arroz irrigado do Ceará, a redução da área de plantio em decorrência da inviabilidade econômica da atividade vem se registrando nos últimos três anos. Neste período, a cheia do reservatório cobriu as tradicionais terras, diminuindo ainda mais o cultivo. De uma margem a outra do Açude Orós, a lamentação entre os produtores rurais é geral. "Não compensa mais plantar arroz", afirma o produtor, Marconi Silva. "O preço não compensa e por aqui muita gente deixou de plantar". O agricultor reclama e recorda. "No passado, era diferente e o plantio se estendia por extensas áreas, cobrindo as melhores terras e avançando nas áreas à medida que as águas do açude iam baixando".

Na Lagoa de Barro Alto e nas várzeas do Rio Jaguaribe, o quadro é semelhante. Três fatores contribuem para a redução do plantio: baixo preço de comercialização, elevado custo de produção e inundação das áreas tradicionais de cultivo em decorrência das cheias dos açudes e lagoas. Não há dados oficiais sobre o tamanho da redução das áreas produtivas, em comparação com determinado ano, mas a julgar pelos relatos dos próprios agricultores, a diminuição chega a média a 50%.

Pico da produção

A década de 1990 assinalou o pico de produção de arroz irrigado no período de verão (julho a dezembro) nas várzeas do Açude Orós, do Rio Jaguaribe e no entorno de lagoas da região Centro-Sul. Nos últimos cinco anos o quadro inverteu-se. A queda do preço do produto e o crescimento permanente dos insumos (adubo, inseticida e energia) contribuíram para que os produtores desistissem da atividade, que de lucrativa passou a ser deficitária.

Por ser uma das maiores áreas produtoras de arroz irrigado no Ceará, a redução do plantio de arroz reflete na economia regional. Os produtores ficam descapitalizados e a mão-de-obra torna-se ociosa, reduzindo a renda no campo. A estimativa de queda pela metade da área cultivada em relação ao ano passado é confirmada pelo escritório regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce), na cidade.

Qualidade

Outro aspecto da produção de arroz na região Centro-Sul é a qualidade do produto. "Não houve melhoria e o cultivo de sementes e de grãos variados, misturados, resulta em um produto que não é de boa qualidade", observa o coordenador regional da Ematerce, Joaquim Virgulino de Oliveira. "Esse fator contribui ainda mais para a queda de preço do produto no mercado consumidor".

HONÓRIO BARBOSA
Repórter

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